sábado, maio 27, 2006

Sigmund Freud


Até o surgimento da psicanálise, as doenças da mente eram consideradas produtos de falhas do sistema nervoso. A visão mecanicista que norteava as ciências médicas não permitia aos profissionais irem além dos estudos anatômicos e fisiológicos; se o indivíduo manifestava sintomas psicopatológicos, estes só poderiam ser resultado de uma falha orgânica, de um desvio das atividades cerebrais. Dentro desse contexto, era o eletrochoque, a lobotomia, dentre outras, as únicas terapias utilizadas para combater as moléstias psíquicas.
A mente humana era um conceito apenas abstrato, metafísico, impossível de ser analisado sob um prisma concreto.
Sigmund Freud formou-se na Faculdade de Medicina de Viena em meio a esse paradigma, o qual, por sua vez, acabaria por derrubar.
Durante todo o curso universitário, Freud relegava os deveres de estudante para segundo plano, dedicando-se mais intensamente à suas investigações independentes. Não sentia atração pela profissão de médico, demonstrando mais interesse pelo estudo das relações humanas do que pelo estudo do corpo segundo o prisma da medicina clássica. Apesar disso, pela necessidade de sobrevivência, vê-se obrigado a cumprir o programa universitário, concluindo a graduação tardiamente, pois nunca abandonou seus estudos paralelos.
Embora ignorando sua condição de psicólogo nato, Freud opta por especializar-se em psiquiatria, e, apesar de não aceitar o estudo dos transtornos mentais segundo a metodologia de então, dedica-se ardorosamente ao estudo da anatomia do cérebro. Graças ao conhecimento profundo obtido através do estudo do órgão, conseguiria descobrir posteriormente com exatidão os mecanismos da alma e tentar corrigir os seus desvios.
Em contato com um colega, Josef Breuer, Freud toma conhecimento do sucesso que este obtivera ao tratar de uma paciente histérica, a qual apresentava uma melhora temporária em seu estado sempre que podia falar-lhe de si mesma durante um bom espaço de tempo. O médico, com paciência, a escutava permitindo-lhe dar curso livre à sua fantasia efetiva. No entanto, durante as confissões bruscas, Breuer percebe que a paciente evitava sempre intencionalmente o mais essencial, o que havia desempenhado papel decisivo na eclosão de sua histeria. Para remover esse obstáculo criado pela inibição, Breuer resolve hipnotizá-la regularmente, esperando que nesse estado, estando todas as barreiras inibidoras rompidas, ela conseguisse expressar livremente o que tão obstinadamente, em estado consciente, ocultava do médico. Breuer obtém sucesso, pois cada vez que a jovem os confessa em estado hipnótico, seu substituto, o sintoma histérico, desaparece imediatamente. Ao cabo de alguns meses, a paciente apresenta-se completamente curada.
Freud percebe nesse relato a evidência de que as energias da alma são cambiáveis, que deve existir no subconsciente uma força que trabalha, que metamorfoseia os sentimentos interrompidos em seu curso natural, e que os leva a outras manifestações físicas e psíquicas.
Dessa evidência, Freud conclui que as doenças da mente não podem ser analisadas, curadas, tendo como referencial tão-somente o corpo físico. Como mais tarde iria a ser cientificamente reconhecido, não está apenas no interior do órgão, na química cerebral a origem das patologias mentais, mas no interior da alma, no eu profundo do indivíduo, nas nódoas deixadas pelas experiências que vivencia desde o nascimento até o desenvolvimento de sua personalidade.
Freud começa a aprofundar com rigor os seus estudos sobre os mecanismos da alma, partindo dos casos de histeria com que se depara em seu consultório. A partir deles, conclui que a alma humana é um verdadeiro campo de batalha, onde os instintos primitivos do indivíduo lutam para romper os grilhões impostos pelo mundo exterior. Dessa luta permanente, eclode a doença mental. Para curar-se, o enfermo precisa deixar de ignorar a origem que desencadeou esse conflito.
Como técnica terapêutica, o médico austríaco vale-se inicialmente da hipnose, como se valera Breuer, vindo posteriormente a abandoná-la, limitando-se a deixar o paciente associar livremente o que lhe vem à mente. Passa a interpretar relatos de sonhos, durante os quais, assim como na hipnose, estando a consciência desinibida, o inconsciente se manifesta livremente. Dos sonhos, afloram símbolos, os quais Freud interpreta de maneira a extrair significados que se associam com os traumas que subjugam o mente do paciente, revelando nas entrelinhas os instintos sublimados a partir de tais eventos passados de sua vida.
Mas quais são esses instintos? Observando os relatos de uma série de pacientes histéricas, Freud percebe em todos os casos uma forte similaridade de causas. Todas as pacientes apresentavam um histórico de abuso ou de repressão sexual, de sublimação da libido. Uma delas, em especial, era casada há dezoito anos com um homem sexualmente impotente. Freud busca também na literatura embasamento para sua investigação, encontrando em um relato do filósofo Jean Jaques Rousseau um caso de perversão sexual: Rosseau tivera uma professora que lhe infligia castigos atrozes na infância, golpeando-o seguidamente com um pedaço de madeira. O filósofo suíço relataria mais tarde que tais sessões lhe causavam, além de dor, um estranho e intenso prazer. Freud veria nesse evento específico de sua infância a incapacidade do filósofo para obter prazer no ato sexual com outras mulheres, sua incapacidade de gozar através de uma relação sexual convencional.
O instinto sexual, a potência da libido aprisionada, é a primeira das forças que do subconsciente irrompem avassaladoramente de maneira a perturbar o funcionamento da alma. Essa descoberta de Freud, em meio a um período de forte moralismo, quando a sociedade não pede ao indivíduo que seja moral, mas que tenha uma atitude moral, sendo irrelevante tanto para a sociedade quanto para o Estado que o indivíduo viva de um modo verdadeiramente moral, sendo suficiente apenas não se deixar surpreender em flagrante desrespeito às convenções impostas, causa forte escândalo, resultando no desprezo da sociedade científica para com as teses defendidas pelo médico austríaco.
Sem o apoio da sociedade científica, Freud é forçado a dela se afastar, passando a trilhar suas investigações isoladamente. Mas ciente de que não poderia chegar aos resultados que buscava sem compartilhar suas teses e suas investigações, reúne um grupo de médicos, estudantes e artistas para fins de expor ao debate as suas teorias, incitando-os a questionar-lhe com afinco.
Da evolução de suas investigações, Freud descobre que além do instinto sexual, outra força motriz desempenha papel igualmente intenso na vida psíquica. À libido, Freud contrapõe outro instinto, o instinto de morte. Enquanto o primeiro impulsiona a criação, a reprodução (Eros), o segundo impulsiona o indivíduo para a destruição, para a extinção (Tanatos).
Freud foi duramente criticado por ter dado exagerada importância ao instinto sexual. Na realidade, o que ocorre é que ele não conseguiu representar o instinto de morte de maneira tão clara e com força tão persuasiva como o fizera com relação àquele. Além disso, o fato de ter dado maior relevância à influência da sexualidade sobre o agir humano, Freud na realidade se insurgia contra o pensamento vigente, que tendia a subestimar e sublimar as consequências da sexualidade sobre a vida do indivíduo.
A principal contribuição de Freud para a humanidade é a sua descoberta de que o mecanismo da alma humana é impulsionado, sobretudo, pelos resquícios das experiências com as quais o indivíduo se depara ao longo do seu desenvolvimento; sendo a individualidade resultado da influência direta de forças internas as quais, em nível consciente, ele não quer ou não consegue perceber, sendo a psicanálise o instrumento através do qual o reencontro com o eu verdadeiro é realizado. Freud não emite juízos de valor sobre a natureza humana, ele apenas se preocupa em demonstrar que a constante interação entre os desejos primitivos e a repressão que estes sofrem do mundo social e cultural constitui o melhor caminho para compreender não apenas o eu individual, mas a civilização como um todo. Através das interpretações de Freud é possível compreender o porquê de, apesar de tantos avanços técnicos e científicos, a civilização é capaz de viver em permanente conflito, tendendo sempre à barbárie.
Como escreveu Stefan Zweig, ante a pergunta de para que a razão, se apesar de ter servido durante décadas a ele mesmo (Freud), à ciência e à verdade, no final das contas todo ato de consciência da humanidade deve ser sempre impotente contra seu inconsciente?, “Freud não se atreve a negar o poder ativo da razão, nem a força incalculável do instinto... diz ainda que podemos seguir dizendo com razão, que o intelecto humano é débil em comparação com os instintos. Mas esta debilidade é coisa singular: a voz do intelecto é baixa, mas não cessa enquanto não se faz ouvir. Por último, depois de inumeráveis derrotas, o consegue sempre...a primazia do intelecto se encontra certamente em uma região distante, mas que provavelmente não é inacessível”.

7 comentários:

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